Hoje, mesmo sem estar nas minhas constantes aulas de ballet, tive mais uma confirmação do quanto aprendo sobre assuntos paralelos ao ballet, dançando. Eu, assim como a maior parte das pessoas, nunca cheguei a pensar na possibilidade do ballet me proporcionar coisas além de técnica, coisas que precisam fazer parte de mim nas situações mais absurdas, mas nas mais decisivas também. Quanta coisa abri mão para desenvolver meu papel numa escola de dança. E mesmo assim não o fiz como esperavam que eu fizesse. Mas como com toda bailarina com propósito acontece, eu renunciei o ballet por um tempo. Como não esperava. Afinal de contas, era eu mesma que ficava revoltada com a hipótese ridicula de parar de dançar. E não importa se era mesmo o melhor pra minha saúde naquele momento. Não importava pra mim se eu estava arriscada de alguma forma que não me interessava saber, com um estiramento que doía demais. Eu só parei. Por opção. Ou também por falta dela. E o detalhe é que eu não me importei com isso. Não me importei se eu já tenho 16 anos, se eu ia provavelmente regredir. Eu parei talvez pelo estresse que o ballet também me proporcionou, ou pelas coisas que eu ouvia como bailarina. Devo ter parado pela preguiça. Ou então devia estar exausata de sentir uma dor dobrada. Talvez eu tenha parado pelos motivos mais ridiculos. Mas parei. E isso pra mim foi uma renuncia que me surpreendeu muito. E com essa renuncia, aprendi. Aprendi que o ballet não é necessário pra mim só pra ter técnica e brincar de ser bailarina, calçando sapatilhas de ponta e enchendo o pé de esparadrapo. Ele me proporcionou muito além do óbvio. Me ensinou a trabalhar incondicionalmente com excelência. Me ensinou que eu posso. Que eu vou além de elevês, porque assim como ele, além de saber o que é, eu preciso da base, de uma boa postura, de bons sonhos, de muita boa vontade e principalmente, preciso obedecer. O ballet também me ensinou a importância da obediência. Quando somos fieis a base, nós crescemos. E em todos os sentidos. Quando não seguimos fielmente a base, nós não saímos do lugar, nós nem sequer paramos em pé. Aliás, para uma pirueta qualquer, se não obedecemos fazer o que é certo fazer, não conseguimos nem mesmo nos manter na ponta, tampouco dar um giro.
Como disse um amigo, "pra dançar ballet tem que ser muito macho". Estando ciente ou não do que nos espera em cada escolha, é preciso coragem para vencer uma por uma. É preciso coragem pra obedecer, pra fazer a escolha certa, pra ser quem sou, pra reconhecer quando erro e pra renunciar. Eu quero, mas estou disposta a abrir mão, só pra ter o que é meu. E isso não quer dizer de forma alguma que eu não nasci pra ser uma bailarina. Pelo contrário, eu fui criada por Ele com esse propósito. Por isso entendo o porque de estar nessa fase de espera. De crescer direito. De ter a certeza de que antes de ter aula com bailarinos profissionais, eu tenho aula com Ele. Não só de dança, mas da vida. E com Deus eu quero sim aprender tudo direitinho, quero me entregar verdadeiramente, fielmente, sinceramente como aluna.
E eu sei que ainda aprendi nada...
Um comentário:
Não sei nem o que dizer... você me surpreende a cada dia. Pudera eu, aos meus 16 anos, conhecê-lO com intimidade o suficiente para abrir mão daquilo que eu pensava irrenunciável. Quem dera, com tão tenra idade, chama-lO Papai.
Você me ensina a cada dia, Gabi. Obrigada por sua amizade.
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